quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Mas que nada, sai da minha frente eu quero passar!

Já vai pra três meses sem escrever. E enquanto revisitava os textos e momentos guardados aqui, me perguntei:nostalgia?

Uma lágima quase escorreu, aguando o sorriso escondido no canto da boca ao lembrar do quê, pra quem, de quando e como cada um dos momentos vieram e deixaram suas marcas comigo, significadas nos textos do blog.

Mas não, não foi nostalgia. Foi pra tentar criar vergonha na cara e revisitar as metas, os objetivos, de me lembrar mesmo para o quê eu vim, à que me propus.
Forçado demais? Mas que nada, sai da minha frente eu quero passar!*
Eu mesmo me reli com olhares irônicos o nunca fiz planos, contei datas ou estipulei metas. Não que agora seja uma meia verdade (ou uma meia mentira). Talvez a grande sensação, um tanto dolorida, foi perceber o quanto não ter planos, datas ou metas foi de um aprendizado incomum, ao chegar na boca do túnel e perceber: sim, é aquela luz lá, e é pra lá que eu vou!

Eduardo

*Mas que nada - Elis Regina


domingo, 8 de setembro de 2013

Lar, afinal, é o lugar em que você está

Lar? O que é um lar? Lar é um trabalho em progresso. É um projeto em que estamos constantemente incluindo melhorias, fazendo correções. E para a maioria de nós, lar tem menos a ver com um pedaço de chão do que com um pedaço de alma.
Nada! Não podemos tomar nada por óbvio! Viajar é como estar apaixonado: de repente nossos sentidos estão todos ligados, atentos à tudo!
Mas a real viagem da descoberta, como disse Marcel Proust, não consiste em ver lugares novos, mas em ver com novos olhos. E claro, assim que você tenha novos olhos, mesmo os lugares antigos, mesmo seu lar tornam-se algo diferente.
Assim, de onde você é agora é muito menos importante do que aonde você vai.
Ah! Nunca pensou nisso? Lar não é o lugar em que aconteceu, veja bem: aconteceu!, de nascermos. É o lugar no qual nos tornamos nós mesmos.
Claro! Eu sei, eu sei que é fácil falar, mas realmente acho que é só parando que você pode ver para onde vai. E é só saindo da rotina e do mundo que você pode ver o que realmente lhe importa e encontre um lar.
E lar, afinal, claro que não é só o lugar em que você dorme. É o lugar em que você está.



Queria poder dizer que o texto acima é meu. Na verdade é meu, pois me apropriei, me identifiquei com ele, pus nele parte de mim, ou ainda, vi parte de mim nele. E quando aconteceu, eu disse: é isso.
Ao autor, Pico Iyer, um muito obrigado.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Gostaria de instalar o sem parar?

- Bom dia, senhor. Gostaria de instalar o Sem Parar?
Ouvi muito essa frase. A clássica brincadeira do ‘não tem sem pagar?’ já nem tirava mais aquele sorriso amarelo das atendentes das praças de pedágio, onde quer que estivesse.
Até algum tempo atrás viajar foi mais que um hobby, 
quase um ofício. Mudar de casa, ainda que só por algumas noites, fazia parte das rotinas mensais - pra não dizer semanais.
Mas há algum tempo isto cessou. E a sensação de pertencimento, de referência, de estabilidade mesmo, veio e se encaixou exatamente no lugar que um dia era preenchido pelo prazer de dirigir.

- Boa tarde! Gostaria de verificar água e óleo?
As vezes me questionava se os frentistas não lembravam mesmo que eu tinha passado por ali na semana anterior, algumas centenas de quilômetros depois, entre idas e voltas.
Foram infinitos os motivos que me levaram a tantos lugares: trabalho, passeio, família; passeio, fuga, trabalho; curiosidade, vontade, convite; necessidade, obrigação, disposição...
Ainda hoje gosto de relatar esses números, pra quem quiser ouvir (ou pra quem eu conseguir falar, admito): algumas centenas de quilômetros por semana; alguns milhares de quilômetros por mês; uma pequena fortuna em combustível a todo momento. “E olha que lá pra São Paulo o combustível é mais barato!”, termino.

- Boa noite! Gostaria de escolher poltrona com Espaço+ por apenas 1000 pontos?
Depois de tantas idas e vindas, a oferta do Espaço+ passou a soar irônica. Apesar de ter vivido certas situações em que tudo, no final, só se resumia a tentar encontrar uma resposta vazia na velocidade da estrada, hoje penso que definitivamente, qualquer mais espaço só é possível de ser achado aqui mesmo, na tranquilidade da cautela, da caminhada. Voar, enfim, só quando estritamente necessário.



← OLHE →
Hoje o ritmo já não é mais medido em quilômetros. Mas com passadas sobre o chão quente de asfalto. Olhar de um lado e de outro, observar os movimentos, o cenário como que rolando sobre esteiras, ficando pra trás. Esse tem sido o ritmo dos dias.

Diversas vezes que pensei em instalar o tal do sem parar. Cheguei a contratar por um mês ou outro, só pra testar. Interessante a possibilidade de ver a fila de carros ficar de pra trás quase sem precisar reduzir a velocidade.
- Mas por onde andei mesmo?

Hoje percebo que olhar, seja com um olhar nômade ou de alma viajante, vale mais que qualquer justificativa pra se chegar logo, pra se ver o fim da estrada, pra sentir se valeu ou não o esforço.


Olhar é a oportunidade de crescer com os segundos que passam, de verdade, de avançar com a passos dados, e contados, na certeza de que a firmeza do chão, é a do chão que precisamos e queremos pisar.

domingo, 16 de junho de 2013

s.f. Prudência, precaução, cuidado.

Os avanços tem sido significativos nos últimos tempos. E como gosto de guardar certas datas, deixei que algumas breves reflexões saíssem pelos dedos. A “natureza selvagem” de minha Belém, em referência à um certo livro que li dias atrás, tem se mostrado cada vez menos difícil de entrecortar. Mas não menos densa.
Cautela!
Uns anos atrás aprendi sobre um personagem da história que disse que muitas vezes precisamos recuar um passo para avançarmos outros dois. Isso foi numa aula estranha com um professor que há muito parecia só recuar...
Excesso de cautela?
Independente dos passos ou da quantidade deles, não estou com essa pretensão toda de avançar sobre certos aspectos, sobre certos caminhos. “A natureza selvagem”, disse o livro, “nem sempre nos recebe muito bem”. Talvez de assustada é que as vezes ela se feche.
Definitivamente é cautela.
Num outro livro, que também li não faz muito tempo, encontrei um trecho muito interessante que dizia assim: “a prudência determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar”. Em meio à tanta energia e tanta densidade nesta floresta, onde é impossível passar inerte, foi quase chocante se deparar, quase instantaneamente, com a necessidade de desacelerar.
Cautela, enfim!

domingo, 2 de junho de 2013

Sobre ciclos, círculos e virtuoses

Acabo de voltar de viagem. Ida e volta quase tão rápidas quanto a hora de um relógio num intervalo de almoço no trabalho.
Fechando um ciclo virtuoso de pequenas grandes vitórias, poder reviver este circuito Belém-São Paulo-Belém foi por demais instigante.
Se até alguns meses atrás o ésse chiado gerava estranhesa, depois de dez anos; desta vez, depois de quase três meses, já era ele que regulava novamente meus ouvidos e, já em Sorocaba para algumas poucas horas, o érre arrastado soava com algum ar de novidade.
Você traça planos, se esforça por colocar os anseios dentro de uma razão qualquer (compreensível no papel, ao menos) mas de verdade, no fim, sempre teremos uma dificuldade enorme em saber quanto ou quando certos objetivos estarão aqui, ao nosso lado, em nossas mãos, concluídos e instalados em nossa tranquilidade.
Reviver amigos, paisagens, famílias de sangue, ideias e ideais foi importantíssimo pra saber que o meu caminho é este.
Cada um escolhe o seu norte. Com algumas pessoas percebemos que os nortes se cruzam, independente dos planos e do plano. Ao poder rever estas pessoas aniversariando, casando, sorrindo e gargalhando, ainda que não tenhamos sentado em roda, em círculo, foi curioso perceber como certas mensagens são captadas à velocidade de um raio:
- Sim estou [mais] em paz. - respondo. Ou "mais ao norte", poderia brincar. Também foi gostoso percebe-los em busca dos seus.
A virtuose? Aprendi que uma virtuose pode ser aquela sequência de notas e acordes tão habilmente executadas que poucos músicos são capazes de conseguir.
Gosto de pensar que qualquer um de nós é capaz de fazer da própria vida uma virtuose, cada um a sua maneira, com a sua música. Basta saber qual direção tomar, com qual trilha sonora.
Acabei de voltar de viagem. Foi gostoso perceber amigs e famílias fazendo virtuoses de suas vidas.
Entre um trecho e outro de música, desta vez fico uma faixa inteira: "Paula e Bebeto", na voz de Milton Nascimento.
Saudade, pessoas!

sábado, 18 de maio de 2013

Suave coisa nenhuma





Engraçado perceber como se cria uma mania em avaliar, quase o tempo inteiro, as atitudes que temos, as escolhas que fazemos. Há quem defenda que isso seja falta de convicção, dizendo, apaixonadamente, ‘se joga!’. Não vejo problemas em se jogar. Mas sim naquela sensação estranha de parecer cair pesado como um piano.

Mais engraçado ainda é perceber como os tempos nos dão impressões muito diferentes de tudo: depois de um certo tempo cuidando da minha Belém, tudo parecia lento, devagar.
Saborosamente angustiante, proveitosamente demorado, por dias a fio. Há exatos 32 dias isso se intensificou mais do que nunca, e de uma maneira incrível. E os envolvimentos na Belém de si, de mim, e dos outros tem se tornado cada vez mais interessante.

Pessoas que encontramos pelo caminho, pessoas que nos encontram pelo caminho; oportunidades que nos brilham a cada túnel que passamos - e nos exigem escolhas!; energias renovadas a cada vez que olhamos pra trás com aquela saudade, e sorrimos ao olhar pra frente e sentir aquela expectativa gostosa do que é o horizonte trazer algo fabuloso.

Você vai ver

É só querer
Felicidade é só questão de ser
Felicidade, Marcelo Jeneci



Eduardo


*Amor, Secos e Molhados

terça-feira, 9 de abril de 2013

As sutilezas da Belém de si



I


Duas estradas divergiam numa floresta. 
Peguei a menos andada. Isto fez toda a diferença.
Robert Frost


Hoje estive lembrando das novidades, daquelas que só dependem dos nossos olhos...
As mudanças, bruscas ou sutis - aquelas mesmas que trazem novidades - só dependem da nossa capacidade de observar o que pode nos ser importante ou não.
As dificuldades? Inevitáveis. Mas só permanecem assim se não soubermos encará-las como desafios e oportunidades.
Há algumas semanas venho me dedicando àquelas mais sutis. Afinal, penso eu, as novidades bruscas nada nos ensinam, a não ser em nos exigir exercitar a calma, a paciência e o nosso potencial de observação.
Mas há certas mudanças que mesmo pensadas, marcadas no papel e avisadas aos sete ventos, puxa vida, não conseguem ser menos impactantes do que um grande e enorme piano que, caindo seco e silencioso do alto de um prédio, faça um baque forte e pesado ao encontrar o chão.
Calma! Não me sinto embaixo do piano! Nem caindo com ele. Mas imagine pernas cansadas, mente carregada de zunidos e alguma desorientação que só as boas conversas, um bom barulho de chuva e aquele almoço podem desmanchar.
As memórias? Estarão sempre aqui, trazendo de um lado a saudade e de outro aquela vontade de fazer tudo se juntar, daquele jeito mesmo de quando acabamos de ler um bom livro e logo a gente pensa em querer começar tudo de novo.
Hoje estive pensando em novidades, daquelas que só dependem de nós, das nossas pernas preparadas pra caminhada e dos olhos bem, bem abertos.

Eduardo, 27 de março de 2013


II

Oh, vida, das perguntas desses recorrentes
Dos infindáveis trens dos incrédulos
De cidades repletas de tolos
Que há de bom nisso tudo, oh vida?
Resposta: Estar aqui.
Existe vida e identidade,
Essa brincadeira de poder continua,
E você pode contribuir com um verso.

Há exatos trinta dias eu me repatriava. Sim, isso mesmo: tenho fortes sensações de que voltei ao meu país natal. Desde que comecei a pensar nele, as músicas do grupo Euterpia passaram a povoar meu dia a dia; e, por agora, uma em especial tem ajudado nas adaptações por aqui:

Mesmo que o verde seja falso
Que o cinza prevaleça,
Que eu não pare de falar
Mesmo que a rima seja curta
E que a falta da labuta sempre vá me devorar

É o horizonte que me espera
Fuga que me aguarda
O tempo esmagador.
Veneza, Euterpia

A fuga não é uma opção, por isso ela fica eternamente aguardando. Afinal, o tentar está só começando. Mas alguns desses dias de adaptação tem sido difíceis, bem difíceis; só não mais porque ainda assim os desafios diários tem trazido a gostosa sensação de como é mais fácil alcançar o horizonte do que se imaginava.
Mas não falo apenas de trabalho, também, pois sei que esse vai aparecer na hora certa. Perceber-se e perceber, ao longo desse tempo, que parte dos planos traçados não se concretizarão é que tem exigido uma boa dose de lucidez. E isso sim tem sido complicado.
Eu sei, planos foram feitos pra isso, pra facilitar de entender os objetivos. Mas entre as escolhas e o destino final, tem muita vida no caminho...

Ela sumiu completamente. Nem memória ela deixou.
Isso que se escreve quase sozinho sobre ela
e o que não ficou é como um reflexo.
Incontinência das palavras que buscam significar
até o que não significa mais nada.

Adaptar o trajeto, buscar os reais objetivos que as vezes ficam obscurecidos em nossos orgulhos e arrogâncias, essa é uma árdua tarefa.

Algunas veces, mejor no preguntar,
por una vez que algo sale bien,
si todo empieza y todo tiene un final,
hay que pensar que la tristeza también
se va, se va, se fué.
Eco, Jorge Drexler

Enfim, em meio a essa profusão de mudanças, é incrível a sensação incondicional de pertencimento. A satisfação e a tranquilidade em poder transitar entre novos espaços e (des)conhecidas pessoas que, mesmo estranhando o retorno, te questionam, se colocam e te recebem; te ouvem, se surpreendem e terminam com um “então, bem vindo!”. E desse jeito, sem perceber, acabam por me ajudar na sutil chegada à Belém de si.

Eduardo, 10 de abril de 2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

Isto que estás ouvindo, já não sou eu


Há algum tempo escrevi sobre usar óculos, de como se leva um tanto pra se adaptar, e de como quase tudo correu bem na longa adaptação que os anos trouxeram depois de mudarmos para o estrangeiro.



Quem quiser venha ver 
Mas só um de cada vez 
Não queremos nossos jacarés 
Tropeçando em vocês 
(Mosaico de Ravena)

- Oi, bom dia. Queria saber se vocês estão aceitando matrículas no meio do semestre. Acabei de chegar na cidade, tem os vestibulares pela frente e...
- Sim, aceitamos. Mas você não se enganou? Não é a escola ao lado que você procura?

Essa foi uma das primeiras vezes que saía de casa, poucos dias depois de ter chegado em Campinas. Era 2002 e as vésperas do vestibular. Tentava não esquecer que ele ainda me rondava.
Não, não era a escola ao lado. Aquele dia saí de casa de bermuda e chinelos, e no julgamento daquela senhorinha eu tinha errado de porta, da pública para a particular.

Ao menos não tínhamos chegado em Campinas armados, na defensiva. Curiosamente, em casa, em nenhum momento falamos em termos de preconceitos, de preocupações que deveríamos ter em relação as pessoas, mas tão somente em oportunidades. Afinal, não estaria a novidade nos nossos olhos?

Mas assim como o tempo traz as adaptações necessárias, foi irônico perceber que desse mesmo tempo e dessas mesmas adaptações vieram situações inusitadas, dignas de uma pesquisa antropológica:

- Nossa, mas que longe!


 
- Mas por que você veio pra cá? Não tem faculdade lá?

- E como é lá, assim... o que tem lá? (repare que não perguntou como é a cidade lá) 


- Ah, como eu queria conhecer o nordeste! Me conta, você mora perto da praia?!

- Paraná?
- Não, Pará.
- Tem Pará também? Achei que só tinha Paraná. Onde fica?


A culpa é da mentalidade
Criada sobre a região
Por que é que tanta gente teme?
Norte não é com M
(Mosaico de Ravena)

Não chegar na defensiva foi bom. O despreparo para o inusitado é que cansou um pouco. Não, cansou bastante. E esse cansaço me levou a uma infeliz reação, que durou algum tempo: qualquer comentário ou pergunta inusitada logo me armavam de grosserias ou mesmo de uma sutil rejeição. E lá se ia por água abaixo qualquer investigação antropológica. Um tempo razoável se passou entre as pedras na mão e percepção de que vivia oportunidades perdidas de ótimas conversas.
Quem me conhece sabe da dificuldade que tenho de manter a concentração, o foco. E quase vinte anos usando óculos, dependo muito deles pra ter certeza do que vejo. Mas em uma noite, recentemente, numa conversa-de-despedida, observei algo novo: tirei-os rapidamente e tive o foco reduzido a um pequeno círculo. Puxa vida, que experiência interessante!

Não foi fácil ficar sem os óculos, admito, pois foi uma sensação estranha (como tudo que é novo) de não poder ver mais nada além daquele um metro de distância, numa pequena área em que eu só via o rosto da outra pessoa. Mas dessa experiência de ficar sem as lentes pro mundo, mesmo que por alguns instantes, me permitiram encontrar a metáfora do que foi deixar as pedras que carreguei.

Devagar, com tempo, precisei encontrar outro foco, ver de outros ângulos, e perceber que eu fazia parte do privilégio de poucos em poder dizer como era lá, e como era aqui. Mais do que isso, comecei a perceber como as nossas fontes diárias de informação só nos diziam muito menos do que realmente é: São Paulo = trânsito e shoppings; Rio de Janeiro = favelas e praias. Não, a televisão brasileira nunca ajudou ninguém a conhecer o próprio país.


Não sou brasileiro, 
Não sou estrangeiro, 
Não sou brasileiro, 
Não sou estrangeiro. 
Não sou de nenhum lugar, 
Sou de lugar nenhum. 
(Titãs)



Mas me desarmei, e o Mosaico de Ravena já nem é mais tão trilha sonora assim. A convivência com gente de todo lugar e as várias casas em que pude morar me ensinaram, na prática, o que significa alteridade.

Ainda sinto fortemente que vim de um país que se chama Pará. Mas isso só vou saber se é verdade daqui algum tempo. E já nem creio que tenha vivido no estrangeiro.


Esto que estás oyendo
ya no soy yo,
es el eco, del eco, del eco
de un sentimiento;
(Jorge Drexler)


Dentro dessa razoável caminhada, daqui pouco mais de 48h, o destino vai virar origem de novo e, enfim, vou avançar a uma nova fase, vou voltar à minha Belém. A conclusão desta? Bem, o que nos finda, afinal?


Eduardo

Acesse Mosaico de Ravena, "Belém, Pará, Brasil" aqui
Acesse Titãs, "Lugar Nenhum" aqui
Acesse Jorge Drexler, "Eco" aqui

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Livre pra viajar


Em meio a reflexões, um pequeno texto à uma Energia que passou pelo mundo a multiplicar suas forças em cada pessoa que cruzou o seu caminho. Obrigado por me deixar fazer parte da sua vida, menina!



Perda? Perda não. Não consigo acreditar em perdas. Mas em ausências. É como uma viagem: uma hora estamos e na outra não estamos mais. Pensando nesses termos o que recai ainda é a saudade. E, inevitavelmente, saudade é algo com que temos que aprender a conviver. Sentimento que dá e passa? Talvez sim, talvez não. Talvez nunca...

Por isso o convívio: ter-se por perto sempre, sempre que dá, sempre que deixam, sempre que lembramos que, a qualquer hora, pode não estar mais. Se é uma ausência, um afastamento, uma hora qualquer pode vir a não ser mais, pois está próximo, perto! E se estar perto ou longe de alguém é uma questão de escolha íntima e individual, não vai ser um afastamento físico, material, que selará a boba e equivocada ideia de perda.

Hoje é teu aniversário. Adorava brincar contigo dizendo que por pouco não farias aniversário só de quatro em quatro anos, lembras?
Algum tempo atrás você rumou ao norte. Daqui uns dias rumarei eu. Nortes diferentes, é claro. Desejei que esse meu dia de rumar ao Norte pudesse ser acompanhado por ti, numa das tuas raras férias, tudo bem divertido. Assim eu te mostraria o que é açaí de verdade, hahaha.

Talvez até estejas aqui, o que não duvido. Se mais livre, por que não viajarias mais? Se mais livre, por que não estarias aqui junto (mesmo de longe), no agora tão perto Pará?
Mas suspeito de que não vais aparecer pra não me ver comendo doce de cupuaçu, porque essa inveja eu não vou deixar de te fazer, hahaha.

Saudades de ti. Apareça qualquer hora pra gente tomar um açaí com farinha!

Du

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Não é o fim do muito

Casa? Minha casa é aqui. Depois que eu chegar e botar os pés no chão, pode ser lá, ou em qualquer outro lugar. Cheguei a ter várias casas em um único semestre, e demorei pra perceber o que isso significava, o que isso pesava na bagagem das ideias e das sensações.

Nesse período tinha o hábito de fotografar. Era quase como respirar, um ato contínuo que nem precisava pensar pra fazer, como se só pudesse ver pela lente da câmera. As vezes, mesmo sem máquina, via enquadramentos, sépias e ângulos interessantes. Era o momento que a máquina carregava as baterias, do contrário, eu não estaria vendo nada, mas registrando.

Hoje percebo que pouco guardei de cada um desses lugares - de muitos, por sinal - apenas alguns outros ainda vivem comigo. Posso lembrar os nomes, e adoro olhar as placas na beira da pista ou em um mapa e lembrar “que já estive por aqui” ou que “fulano é daqui!”.

Sim, várias e várias vezes chamei de casas esses muitos lugares, tão somente porque alguém me permitiu, e agradeço. Porto Alegre, Florianópolis, Londrina e Curitiba; São Paulo, Santos e Campinas; 
Hortolândia, Valinhos e Vinhedo; Sorocaba, Itu e Iperó; Ibiúna e Vargem Grande; Marília, Vera Cruz Garça, e Oscar Bressane; Ourinhos, Assis, Presidente Prudente, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto; Sertãozinho, Araçatuba, Tupã, Arco Íris, Lins e Cafelândia; Araraquara, São Carlos e Piracicaba; Belo Horizonte, Poços de Caldas, Caxambú e Jaguariúna; Goiânia, Goiás Velho e Brasília; Imperatriz, São Luís, Barreirinhas, São Raimundo Nonato, Maceió, Recife e Salvador. O mea culpa é comum, mas inevitável: desculpem, mas não vou lembrar de todas!

Não guardei a data exata de minha chegada em Marília, e há alguns meses aguardava saber a data exata de minha ida de lá. Pensei, projetei e programei isto, ansiosamente! E ansiosamente, buscando e esperando pelo novo, é que me despedi.

Foram pelo menos nove anos de estada e estrada. Muitas idas e vindas, muitas mudanças de ares, muitas descobertas intensas e inusitadas, em todo esse tempo. Muitas mudanças de casa, muitas dormidas fora de casa e muitas voltas pra casa também.

Muitas visitas, festas, saraus e ótimas conversas. Muitas desavenças, louças por lavar, livros e textos por ler. Muita poeira varrida (e não varrida!) no tempo e tanta intensidade vivida que mesmo insistindo no muita e no muito, ainda assim é pouco.

Não faz muito tempo percebi que tenho mais memórias guardadas do período que já não fotografava mais. Praticamente nenhum registro guardado, mas muitas lembranças. Sem dúvida que perdi parte do que poderia ter registrado, e hoje, dependo da boa vontade das memórias não irem embora.

Duas imagens não se perderam no tempo, e não nego que foram sim registradas - só não lembro onde estão: as cores do nascer e do pôr do sol de Marília. Brancos, azuis, vermelhos, laranjas e lilases; e formas, muitas belas formas.

Quarta-feira, dia 6 de feveiro de 2013. Data exata de minha despedida de Marília. Não é o fim do muito. Mas com certeza o fechamento de um ciclo memorável, cujas lembranças ficarão marcadas em mim.

Mais do agradecer às casas que tive nesse tempo em que Marília me acolheu, levo comigo as lembranças das visitas ao
vale, a caminho de Dirceu: o pôr do sol dos fins de tarde, naqueles momentos mesmo em que a terra cora, e nas noites em que se via a lua amansar e se venerava a noite*.
 

Eduardo


*Canto de um Povo de um Lugar

(Pena Branca e Xavantinho)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A novidade estaria nos nossos olhos?

Há poucos dias de acabar o ano, arrumando bagagens e as vésperas de rumar à praia, minha mãe solta essa:

- Mas a nossa vida tá mesmo interessante, hein!? - e eu só pude ficar surpreso.

31/12/2012. Minutos antes da contagem regressiva e ainda estávamos procurando um lugar pra estacionar. Enquanto já ouvíamos algumas ansiedades contando o 3, 2, 1, do lado de dentro do carro a tensão aumentava: já imaginou ver os fogos pelo para-brisa, presos em um engarrafamento?

Fogos ao céu, carros parados e o espumante estourado ali mesmo, na beira da calçada. Estacionados, é claro! Em roda, o ritual de passagem se fez com um gole: de mão em mão, a energia veio com a sensação de que estávamos lá!

Muitas gargalhadas e uma garrafa vazia depois, fomos até a praia. 
- Uma vez pulei as sete ondas no reveion e aquele ano foi uma droga. - ouço esse comentário quase hilário de um amigo, logo na primeira hora de 2013. Estava com meus mãe e pai e um grupo de amigs junto a outras centenas de pessoas na beira da praia. Vários sons e músicas de todos os tipos vindo de todos os lados. Pouca luz, muito barulho e muita festa.

Pra mim, o primeiro ano novo contemplando o mar calmo e o céu limpo, com os pés na areia e a companhia de “amigos de escola”, em pleno aniversário.

Mas o novo? Há muito pude viajar bastante e pra vários lugares, e nunca achei que pudesse encontrar o novo em algum desses destinos. A novidade, então, estaria nos nossos olhos?

Ainda mais novo foi pensar, ali mesmo naquela praia, se esse ou aquele ano tinha sido bom ou ruim. No início achei muito cedo pra dar a nota ao senhor 2012. Apenas uma coisa já estava certa: ele não passou em branco.

Nunca fiz planos, nunca contei datas, nunca estipulei metas. Mas dias antes, já na viagem rumo à praia, pensei numa foto e numa legenda: “rumo ao novo”, escrevi. A foto não dizia nada, a não ser que se conhecesse a rota e se soubesse do destino. Mas logo comecei a pensar: que novo? E dali já não tirei mais foto alguma, pensativo.

Novo não tem lugar no mapa nem hora na agenda. E rumar ao novo pode significar muita coisa: ceia de peixe na brasa, bolo com meu nome escrito em cima, reveion com os amigos, trilha debaixo de chuva, morar no carro, jantar pizza a luz de velas. Tudo muito em muito pouco tempo!

A primeira hora de 2013 já tinha se passado, e um ano inteiro de novidades vinha pela frente. E vinha com tudo.


Eduardo