Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, tinha medo desta estrada
Olhe só, veja você*
Como não decidi numa simples manhã de domingo, mas com o tempo que foi preciso, procurei dar esse passo conversando com várias pessoas, e devagar, tomando as decisões necessárias.
Conversas com as pessoas que me ajudaram a crescer e, sem saber, chegar nas condições que precisava para enfrentar a mim mesmo e, enfim, o que já vem vindo pela frente. Não é demais agradecer de novo, sim?
Que quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor.
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E a noite eu acordava encharcado de suor*
Nesses meses de preparação colhi das mais diferentes reações. Foi curioso, gostoso e ao mesmo tempo desafiador poder dizer a um monte de gente tudo o que fiz antes de chegar até ali - e também ouvir o que tinham a dizer, dentro de cada necessidade, de cada envolvimento.
“ - Repense!”.
“ - Puxa, você é corajoso.”
“ - Eu já sabia. Só não sabia que ia ser agora!”.
“ - Que legal! Agora já posso pensar uma viagem pra lá!”
“ - …” (deu de ombros e mudou de assunto)
“ - Não vai me dizer que você vai embora?”
“ - Uuuaaaauuu! Quando?”
“ - Ah, sério?”
“ - Nossa, pra Belém?!”
" - Vá que tudo vai dar certo. Não é profecia, só não acredito que vai dar errado com toda essa organização."
“ - Vá, meu amigo, vá. Quando a terra chama o coração tem que obedecer.”
É claro que nada é certo, tampouco estou indo sem saber que é duvidoso. É certo enquanto me arrumo daqui pra sair, e me arrumo de lá pra chegar. Afinal, nada é tão certo até que aconteça, e nada é duvidoso desde que a gente se organize pra não ser.
Eu vejo o horizonte trêmulo
Tenho olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado
Mas a dúvida é o preço da pureza
É inútil ter certeza*
Mas nem tudo são glórias. Em quase todos os semblantes surpresos com minha notícia, vinha a dúvida se eu estava sendo frio ou corajoso. No mínimo, nenhum dos dois. Dizer que não há dúvidas, medos ou receios é balela. Dizer que cada dia e cada passo, cada conversa e despedida não são pequenas vitórias é uma grande mentira.
"Fica, vai ter bolo!", ou "que medo de ficar longe!" não foram frases raras de se ouvir. Piadas ou dramas a parte, a sensação de angústia não foi simples de lidar. Tampouco fácil de ser superada. Mas porque não acreditar que os lugares, que as distâncias e os desafios sempre são menores do que a gente imagina? Por que não acreditar que a highway sempre será infinita?
Eduardo
*(Engenheiros do Hawaii, Infinita Highway)