terça-feira, 20 de novembro de 2012

O que realmente representa o que é importante?

- Alô? Magá? (voz pesada e igualmente ansiosa)
- Oi Edu.
- É sobre aquela conversa da semana passada, aquela vaga de transferência saiu. É em Campinas.
- An, e aí? (voz receosa)
- E aí que a gente não tem muito tempo pra decidir. Eu preciso responder logo. E então, queres ir?

Esse diálogo durou um pouco mais, mas não mais que dois minutos. Várias outras perguntas vieram e muitas outras tentativas de resposta. Inclusive essa:
- E tu achas que o Duda vai querer ir?
- Ah, Edu, ligue pra ele, converse com ele. Acho que sim.

Em menos de um mês meu pai já tinha ido embora. Voltou. Foi de novo.
Tudo parecia novo e desafiador. Aquela ansiedade do ir-não-ir foi a melhor do mundo. E a pior do mundo também.
Não fazia ideia do que viria pela frente. Sequer lembrava se já tinha ouvido falar de Campinas. Acho que uns dois anos antes só, quando entrei no Colégio e só se falava em vestibular:

- Prestem atenção nessa questão da UNICAMP, eles adoram esse tipo de pergunta! - E por aí vai.

Quatro meses se passaram (ou algo assim). Meu pai ficou morando numa kitnet. Ligava todos os dias. As vezes mais de uma vez por dia. Minha mãe e eu ficamos decidindo o que fazer com isso ou aquilo. Deus pai, quanta coisa, quanta caixa! E quanta (in)disposição minha em querer pensar o que fazer com cada grão de pó preso às tralhas que o tempo foi segurando.

Lembro bem da mudança: um caminhão baú do tamanho do mundo, e o nosso mundo guardado em quase 3 centenas de caixas. Eis que todo o possível veio embora, num não querer deixar nada pra trás, como se pudéssemos.

Mal sabíamos que os nossos mundos só estavam começando a crescer, e que nada naquelas caixas representava qualquer coisa de importante; sequer representava o que viria a acontecer. E como aconteceu.



Eduardo Mussi

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