quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A highway sempre será infinita

Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, tinha medo desta estrada
Olhe só, veja você*


De pronto, há quem pense que tomei a decisão de um dia para o outro. Assim como quem descobre que precisa usar óculos. Os porquês foram unânimes na tentativa de entender minha escolha - totalmente compreensíveis, claro. Outros poucos na (vã) tentativa de rejeitar, crendo ainda que foi um impulso.

Como não decidi numa simples manhã de domingo, mas com o tempo que foi preciso, procurei dar esse passo conversando com várias pessoas, e devagar, tomando as decisões necessárias.

Conversas com as pessoas que me ajudaram a crescer e
, sem saber, chegar nas condições que precisava para enfrentar a mim mesmo e, enfim, o que já vem vindo pela frente. Não é demais agradecer de novo, sim?

Que quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor.
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava 
E a noite eu acordava encharcado de suor*


Nesses meses de preparação colhi das mais diferentes reações. Foi curioso, gostoso e ao mesmo tempo desafiador poder dizer a um monte de gente tudo o que fiz antes de chegar até ali - e também ouvir o que tinham a dizer, dentro de cada necessidade, de cada envolvimento.

“ - Repense!”.
“ - Puxa, você é corajoso.”
“ - Eu já sabia. Só não sabia que ia ser agora!”.
“ - Que legal! Agora já posso pensar uma viagem pra lá!”
“ - …” (deu de ombros e mudou de assunto)
“ - Não vai me dizer que você vai embora?”
“ - Uuuaaaauuu! Quando?”
“ - Ah, sério?”
“ - Nossa, pra Belém?!”
" - Vá que tudo vai dar certo. Não é profecia, só não acredito que vai dar errado com toda essa organização."
“ - Vá, meu amigo, vá. Quando a terra chama o coração tem que obedecer.”

É claro que nada é certo, tampouco estou indo sem saber que é duvidoso. É certo enquanto me arrumo daqui pra sair, e me arrumo de lá pra chegar. Afinal, nada é tão certo até que aconteça, e nada é duvidoso desde que a gente se organize pra não ser.

Eu vejo o horizonte trêmulo
Tenho olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado
Mas a dúvida é o preço da pureza
É inútil ter certeza*

Mas nem tudo são glórias. Em quase todos os semblantes surpresos com minha notícia, vinha a dúvida se eu estava sendo frio ou corajoso. No mínimo, nenhum dos dois. Dizer que não há dúvidas, medos ou receios é balela. Dizer que cada dia e cada passo, cada conversa e despedida não são pequenas vitórias é uma grande mentira.

"Fica, vai ter bolo!", ou "que medo de ficar longe!" não foram frases raras de se ouvir. Piadas ou dramas a parte, a sensação de angústia não foi simples de lidar. Tampouco fácil de ser superada. Mas porque não acreditar que os lugares, que as distâncias e os desafios sempre são menores do que a gente imagina? Por que não acreditar que a highway sempre será infinita?

Eduardo

*(Engenheiros do Hawaii, Infinita Highway)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Você usaria óculos?

Aprendi muito cedo que “o importante é o que fazemos daquilo que fazem de nós”. E tenho que admitir: fiquei bastante surpreso quando me mostraram esse ponto de vista. Não a toa, ele tem me ajudado ainda hoje. 

Com certeza não pensei nada de muito elaborado ao escolher diante do convite, até porque meu imaginário sobre São Paulo se reduzia à Av. Paulista, trânsito, Maluf, shoppings e donuts.

Mas mesmo que façamos escolhas, penso que algumas delas são como usar óculos:
- Você usaria óculos? Perguntou o médico, quando eu tinha por volta de 10 anos.
- … (dei de ombros, enquanto meus mãe e pai olhavam apreensivos)

Eu tinha opção? Certamente que sim. Eu poderia ter esperneado, gritado e chorado, dito que não queria e coisa e tal.
Mas, eu tinha opção? Naquela idade escolher não é muito o forte de ninguém. Dá trabalho e as opções parecem todas muito iguais. Ou tão diferentes que escolher é quase impossível, daí dar de ombros é bem mais fácil.

Eu já imaginava o que era usar óculos, meus pais e muitos dos meus parentes e amigos já usavam. Dessa consulta, já saímos para a loja escolher algo que servisse. Em poucos dias, tudo novo: as pessoas já estavam nítidas, nos seus tamanhos normais e as letras tinham parado de dançar no caderno.

Depois da chegada em Campinas, sem dúvida que a adaptação não foi tão rápida assim, mesmo que eu já não tivesse mais apenas 10 anos: a vista precisou se acostumar com os novos ares e os novos pares; com os novos sotaques, hábitos e a falta deles (imaginas o que é não encontrar uma farinha de verdade para o almoço de domingo???).

Mas ela veio, a santa adaptação! Eis que os óculos não cairam mais das orelhas, a vista já não embaçou tanto e, apesar do ‘ésse’ chiado trombar constantemente com o ‘érre’ arrastado, o tempo passou, escolhas foram feitas e (quase) tudo correu muito bem. Graças, também, às pessoas que apareceram pelo caminho, trazendo novos olhares e pontos de vista. Mas sobre aquele tanto e esse quase eu escrevo depois.

Eduardo