quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A novidade estaria nos nossos olhos?

Há poucos dias de acabar o ano, arrumando bagagens e as vésperas de rumar à praia, minha mãe solta essa:

- Mas a nossa vida tá mesmo interessante, hein!? - e eu só pude ficar surpreso.

31/12/2012. Minutos antes da contagem regressiva e ainda estávamos procurando um lugar pra estacionar. Enquanto já ouvíamos algumas ansiedades contando o 3, 2, 1, do lado de dentro do carro a tensão aumentava: já imaginou ver os fogos pelo para-brisa, presos em um engarrafamento?

Fogos ao céu, carros parados e o espumante estourado ali mesmo, na beira da calçada. Estacionados, é claro! Em roda, o ritual de passagem se fez com um gole: de mão em mão, a energia veio com a sensação de que estávamos lá!

Muitas gargalhadas e uma garrafa vazia depois, fomos até a praia. 
- Uma vez pulei as sete ondas no reveion e aquele ano foi uma droga. - ouço esse comentário quase hilário de um amigo, logo na primeira hora de 2013. Estava com meus mãe e pai e um grupo de amigs junto a outras centenas de pessoas na beira da praia. Vários sons e músicas de todos os tipos vindo de todos os lados. Pouca luz, muito barulho e muita festa.

Pra mim, o primeiro ano novo contemplando o mar calmo e o céu limpo, com os pés na areia e a companhia de “amigos de escola”, em pleno aniversário.

Mas o novo? Há muito pude viajar bastante e pra vários lugares, e nunca achei que pudesse encontrar o novo em algum desses destinos. A novidade, então, estaria nos nossos olhos?

Ainda mais novo foi pensar, ali mesmo naquela praia, se esse ou aquele ano tinha sido bom ou ruim. No início achei muito cedo pra dar a nota ao senhor 2012. Apenas uma coisa já estava certa: ele não passou em branco.

Nunca fiz planos, nunca contei datas, nunca estipulei metas. Mas dias antes, já na viagem rumo à praia, pensei numa foto e numa legenda: “rumo ao novo”, escrevi. A foto não dizia nada, a não ser que se conhecesse a rota e se soubesse do destino. Mas logo comecei a pensar: que novo? E dali já não tirei mais foto alguma, pensativo.

Novo não tem lugar no mapa nem hora na agenda. E rumar ao novo pode significar muita coisa: ceia de peixe na brasa, bolo com meu nome escrito em cima, reveion com os amigos, trilha debaixo de chuva, morar no carro, jantar pizza a luz de velas. Tudo muito em muito pouco tempo!

A primeira hora de 2013 já tinha se passado, e um ano inteiro de novidades vinha pela frente. E vinha com tudo.


Eduardo

domingo, 6 de janeiro de 2013

O que acontece quando o olhar nômade encontra a alma viajante?


Guardadas as pequeninas adaptações, esse texto é uma carta enviada a uma alma viajante que conheci há quase oito anos.



Hoje eu tomei muito café. Parece que os últimos dias de isolamento findando vem me dizendo pra não dormir. Não, não é insônia. É uma estranha (ansiosa?) vontade de boicotar o sono e aproveitar cada minuto da despedida, sabe?

E com muito café e vontade me joguei de cabeça em meio às caixas do depósito em busca de coisas que gostaria de rememorar. Não passei nem perto do que buscava. E encontrei muito do que não queria ter visto de novo (ainda). Mas me deparei com algo inesperado: uma pequena pasta recheada de experiências, singelas ingenuidades e belos retratos de vivências que não voltam mais. Aquelas, carregadas da energia que tínhamos - sem saber como e porque - quando iniciamos a faculdade, lembras?

Nasci e cresci urbanóide. E penso que justamente estas condições é que me ajudaram a criar um interesse enorme pela cultura paraoara, exatamente aquela que pouco vi ou vivi em minha casa, ou que eu mesmo não me deixei despertar. O irônico disso? Precisei sair de Belém pra pensar sobre uma simples questão: o que me fez/faz paraense?

Certamente foste e ainda és a pessoa que foi fundamental nesse processo - munida de algo muito mais importante que qualquer antropologia, mas de sensibilidade. E não só pensando isso, mas sentindo isso, foi que ao encontrar esta pequena pasta, chorei, ri, fiquei pensativo e gargalhei. Gargalhei bastante.

Sabe aquela sensação gostosa de rememorar vivências, ingenuidades e experiências? Estou deixando contigo algumas coisas que gostaria que ficassem contigo: as imagens do Curralistas do Pará, os documentos e o cartaz do AfroÍris e uma foto que tirei em algum lugar do tempo, em algum momento, num retorno de barco à Belém.
Ah, e já ia esquecendo: mando também um livreto chamado Fotografias para não esquecer. Gostei do prefácio, quando fala de olhares e viagens.

Se hoje pude encontrar todas estas coisas, foi porque em inúmeras viagens com um olhar nômade, pude ter a tua participação, a participação da tua alma viajante.



Curralistas do Pará, Marapanim/PA, 2006


Eduardo Mussi
17.12.2012